Em 2013, a Organização Mundial da Saúde definiu seu Plano de Ação em Saúde Mental. Nele, a meta global é reduzir em 10% a taxa de suicídio até 2020.
Em um esforço coletivo para alcançar essa meta, a Associação Brasileira de Psiquiatria e o Conselho Federal de Medicina criaram o Setembro Amarelo. Desde 2014, ele é organizado nacionalmente para conscientizar sobre o suicídio.
No Brasil, 12 mil mortes por anos são recorrentes de suicídios.
Isso equivale a 32 mortes por dia, ou 1 a cada 45 minutos. Para combater a epidemia do suicídio, é preciso a união de todos.
Para chegar ao ato do suicídio, a pessoa primeiro pensa, planeja e mascara o comportamento suicida. É comum mantermos interações diárias com amigos e familiares, sem perceber esse sofrimento.
Um estudo, realizado pela Unicamp, mostrou que 17% dos brasileiros já pensou em terminar a vida. Uma campanha da CVV ilustra os dados: em uma sala de 30 pessoas, pelo menos 5 já pensaram em suicídio.
O que você pode fazer para mudar este cenário?
Primeiramente, é preciso derrubar o tabu ao redor do suicídio. Para entender o assunto, é preciso estudar e falar abertamente sobre ele.
Por isso, preparamos um pequeno guia sobre a prevenção ao suicídio. Aqui, você saberá quando ficar alerta com as atitudes de um conhecido — e o que fazer a respeito.
Comportamento suicida: o que é e quais são os sinais
Segundo o Conselho Federal de Medicina, o comportamento suicida são pensamentos, planos e a tentativa de suicídio.
Cerca de 96,8% das tentativas de suicídio são feitas por pessoas com transtornos de saúde mental. Doenças silenciosas, como a depressão e a bipolaridade, podem chegar à fatalidade sem um diagnóstico.
Os dados são gritantes. Estima-se que até 60% das pessoas que tentaram suicídio sequer se consultaram com um profissional de saúde mental. *3
O diagnóstico de doenças psicológicas ainda é um grande estigma no Brasil. A depressão é confundida com “cansaço”, o abuso de substâncias é confundido com a “necessidade de extravasar.”
Ao ignorarmos sintomas, permitimos que casos tratáveis se tornem debilitantes — e mortais. Portanto, estar disposto a entender esses transtornos é vital na prevenção do suicídio.
Também é preciso saber quando um comportamento pode representar um risco de vida. Por mais mascarado, o comportamento suicida costuma deixar alguns traços reconhecíveis.
Confira abaixo os sinais de alerta e fatores de risco, de acordo com uma cartilha oficial do Setembro Amarelo :
- Transtornos mentais: depressão, bipolaridade, abuso de substâncias, entre outros;
- Histórico pessoal: tentativas prévias, história da família;
- Fatores estressantes: crônicos ou recentes;
- Organizar detalhes e fazer despedidas: recados, doação de objetos importantes, testamentos;
- Meios acessíveis para o suicídio: acesso a armas de fogo, lugares elevados, medicação em grande quantidade;
- Impulsividade: acentuada pelo uso de substâncias. Grande gasto de dinheiro, decisões inesperadas e súbitas;
- Eventos adversos na infância e adolescência;
- Motivos aparentes ou ocultos: comentários exprimindo o desejo de “acabar com a dor” ou de buscar um “final rápido”;
- Presença de outras doenças: principalmente doenças crônicas, incluindo as em fase terminal.
O que fazer ao identificar os sinais de comportamento suicida?
O comportamento suicida pode se estender por meses, até mesmo anos. A decisão e o ato do suicídio geralmente ocorrem durante uma crise, e é realizado em poucos minutos.
Viver com pensamentos e planos de terminar a própria vida é extremamente doloroso. Como humanos, temos o instinto de autopreservação. Lutar contra a própria fisiologia é um ato desesperado de acabar com o sofrimento.
Uma pessoa em meio a uma crise suicida pensa que está sozinha. Neste momento, escutar é a melhor opção para mostrar que você se importa.
É fundamental que você escute sem fazer críticas ou dar conselhos. Não tente mudar a forma de pensar de seu amigo ou familiar, pois ele estará instável para reagir ou discutir.
Quando a crise passar, reforce a necessidade de buscar ajuda médica. Nenhuma ação dispensa o tratamento por um profissional de saúde especializado. Apenas o tratamento correto irá evitar o surgimento de novas crises suicidas.
Além de auxiliar no momento da crise, outra ação essencial é criar um espaço convidativo para se falar sobre o suicídio.
É preciso falar sobre o assunto. Na esfera pública e privada, é preciso reconhecer que o comportamento suicida é um sintoma perigoso, mas que pode ser tratado.
Falar sobre suicídio não aumenta o risco. Ao contrário: alivia a tensão e angústia dos milhares que sofrem em silêncio todos os dias.
O CVV — Centro de Valorização à Vida — é uma organização que promove apoio emocional desde 1962. Graças ao convênio com o Ministério da Saúde, há uma linha de telefone gratuita que atende todo o Brasil.
O número é 188. Pode ser usado 24h e não há necessidade de identificação. Em alguns Estados, também é possível se comunicar por e-mail, chat e redes sociais.
Sempre que falamos sobre o suicídio, é imprescindível disponibilizar recursos. Ligar 188 pode mudar as escolhas de uma pessoa.
Prevenção ao suicídio e Covid-19
Durante o isolamento social, é preciso saber o limite entre tristeza e depressão. Caso suas preocupações impeçam seu sono e sua alimentação, considere buscar ajuda médica.
A seguir, confira algumas dicas para auxiliar alguém à distância:
● Mantenha ligações de vídeo em uma base semanal;
● Fique atento às postagens nas redes sociais;
● Pergunte sobre o sono e a alimentação da pessoa;
● Ajude-a a manter sua medicação em dia;
● As linhas do CVV continuam funcionando normalmente: espalhe o número 188;
● Fique atento às falas sobre a pandemia: “vamos todos morrer, mesmo”, “não tem porque querer fazer planos”, …]
O Brasil é o oitavo país com maior número absoluto de mortes por suicídio. Segundo o Ministério da Saúde, o ato esteve entre as cinco principais causas de morte entre jovens de 20 a 39 anos em 2019.
Diante deste cenário, cada ação conta.
O Setembro Amarelo é mais do que um mês de consciência individual. É uma campanha de alerta à necessidade de oferecer apoio eficiente à saúde mental de todos os brasileiros.
É preciso de união não apenas contra o suicídio, mas na valorização da vida.